A felicidade está ligada à sensação de empoderamento e à capacidade de viver plenamente. Quando nossas capacidades são reprimidas, levamos uma vida submissa e reativa, o que gera sentimentos como culpa e ressentimento, fruto dos valores impostos por essa mentalidade reativa.

De onde vêm o pecado, a culpa e o ressentimento? Esses sentimentos se tornaram tão comuns que muitas vezes acreditamos que são inerentes à natureza humana. De acordo com o filósofo Friedrich Nietzsche, eles estão ligados à moral judaico-cristã, que reprime constantemente os impulsos ativos do ser humano. No entanto, esses impulsos não desaparecem, resultando em um conflito inevitável entre uma moral repressora e nossa vontade de expressar nosso potencial e nos expandir. Consequentemente, nos tornamos reativos quando nos limitamos apenas à preservação de nossa existência, o que aumenta nosso sofrimento e nos faz cada vez mais dependentes das promessas de recompensa oferecidas pelo poder religioso. Dessa forma, negligenciamos um aspecto essencial da existência: nossa capacidade de criar. É somente através da expressão de nossa natureza criativa que somos capazes de gerar novos valores e nos libertar da culpa e do ressentimento.

Para Nietzsche, a felicidade está relacionada ao crescimento de nosso potencial e à constante diferenciação de nós mesmos, tornando desnecessária qualquer crença em um ideal ascético que suprime as diferenças.

Nietzsche afirma que a natureza é composta por uma multiplicidade de forças que estão constantemente em conflito. Essas forças se alimentam umas das outras, crescendo e expandindo seu poder. No entanto, também encontram resistência e reagem para tentar resistir à dominação. Assim, todas as forças são manifestações da vontade de poder, um impulso constante de crescimento. As relações entre essas forças envolvem desequilíbrio e desigualdade, resultando em forças dominantes e dominadas. Essa hierarquia é estabelecida pela potência das forças em conflito e não por uma lei moral.

A força dominante é ativa, capaz de agir e transformar a realidade, expandindo sua potência. Por outro lado, a força dominada é passiva ou reativa, limitada pela força mais forte e apenas reagindo ou se adaptando à dominação. Essa distinção entre forças nobres e plebeias, senhores e escravos, é fundamental para a geração de valores. Os nobres, que são capazes de dominar, criam e impõem valores derivados da afirmação da vida e dos sentidos do corpo. Para eles, o que é bom é aquilo que expande sua potência e se metamorfoseia, enquanto o que é ruim são aqueles que são limitados em seu impulso de crescimento e diferenciação. Portanto, a origem do conceito de "bom" está relacionada à ação afirmativa do homem nobre, que afirma sua diferença.

Os conflitos entre as forças geram impressões que são percebidas pelos indivíduos como dor ou sofrimento. No entanto, a dor não é inerentemente ruim, mas um estímulo para a ação e para a transformação. O sofrimento surge quando não somos capazes de expressar nossa vontade de poder e nos tornamos reativos, negando nossos impulsos ativos. A reatividade é uma resposta à dor que busca preservar a existência, mas ao fazê-lo, reprime a expressão criativa e limita nosso crescimento.

A superação do pecado, culpa e ressentimento requer uma mudança de perspectiva, abandonando a moral reativa que nos aprisiona. Devemos nos libertar do ideal ascético e abraçar nossa natureza ativa, buscando constantemente expandir nossa potência e diferenciar-nos. Assumir a responsabilidade pela nossa própria existência e abraçar o desequilíbrio e a desigualdade inerentes à vida nos permite criar novos valores e encontrar a verdadeira felicidade. É através da expressão de nossa natureza criativa que nos tornamos senhores de nossa própria existência e nos libertamos da culpa e do ressentimento que nos afligem.